Análise da crônica "Eu sei, mas não devia" de Marina Colasanti
Atualizado: 4 de jan. de 2022
A crônica traz uma reflexão sobre o cotidiano, refletindo a realidade de muitas pessoas que vivem em cidades, assim os leitores que se identificam com o relato têm/tiveram experiências semelhantes. A construção deste possui um ar literário, pois a autora seleciona a forma de se expressar, brincando com as palavras ao repetir "A gente se acostuma".
A autora começa a crônica com uma autocrítica, "Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.", que nos permite fazer uma avaliação de nossas próprias atitudes: "saber de algo ruim e mesmo assim fazer". Cabe a nós refletirmos sobre nossas atitudes e tentarmos mudá-las para melhor, mas diante da imposição consumista não é uma tarefa fácil encontrar tempo para apreciar os detalhes e lutar pela vida.
Em geral o texto faz uma reflexão sobre a imposição da sociedade capitalista e as injustiças sociais, não há como vivermos tranquilamente, aproveitando cada segundo e cada detalhe do dia, já que o sistema nos impõe o consumismo acima de tudo e, consequentemente, o trabalho para SOBREvivermos. O trabalho nessa realidade não nos permite desfrutar dos momentos de descanso e diversão, pois chegamos em casa tarde e exaustos, sobra pouco/nenhum tempo. E o trecho a seguir retrata muito bem essa necessidade de trabalhar excessivamente para tentar saciar o consumo necessário para sobrevivência: "E a saber que cada vez paga mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.".
Portanto, quando pensamos em imposição capitalista devemos destacar a necessidade de se consumir em excesso para manter o sistema vivo: "A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade.". Ainda sobre o consumismo, ao se referir à "infindável catarata dos produtos", interpretamos como uma necessidade sem fim, criada pelas publicidades, de adquirimos produtos sem enxergarmos se realmente precisamos deles.
Com essa falta de tempo para as belezas da vida, retratada na obra, também nos acostumamos à ausência de afeto humano, as pessoas não estão com tempo suficiente para interações com quem amam: "A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.". Na crônica também se destaca a falta de atenção ao nosso bem mais precioso, a natureza — que também se vê vítima do sistema consumista.
E no último trecho da obra, a autora evidencia a ideia de conformismo, destaca que nos acostumamos à fugir da vida para poupá-la, mas chegamos ao fim sem termos vivido, "se perde de si mesma". Ao analisarmos essa crônica, de forma resumida podemos afirmar que a crítica é sobre como vivemos em uma velocidade cada vez maior, acomodados e conformados com a ausência de aproveitamento da própria vida, isso devido ao consumismo.
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