O apanhador de desperdícios - Manoel de Barros
Atualizado: 3 de jan. de 2021
Música usada em meu vídeo:
Nome: Owls
Músico: Samsara
URL da música: https://icons8.com/music/author/samsara
Sou uma admiradora das obras de Manoel de Barros e fiz esse vídeo como uma tentativa de declamar um de seus poemas. Falhei em algumas partes por nervosismo e esqueci a palavra "boas" em "como as boas moscas", peço desculpa a vocês e ao querido Manoel de Barros, onde quer que ele esteja. ❥
O vídeo foi uma inspiração tirada a partir dos vídeos contidos no site: https://notaterapia.com.br/2020/05/31/16-poemas-de-manoel-de-barros-para-ouvir-online-e-de-graca/
Ao assistir os vídeos me encantei pela forma como declamavam. Existe uma sensibilidade intensa nas entonações e em cada palavra presente nos poemas. Aqueles vídeos fizeram com que eu me transportasse para um ambiente completo pela natureza, viajei em imagens que as palavras conseguiam produzir em minha mente, viajei em pensamentos que produziam os meus olhares críticos, viajei em um mundo construído pelos poemas.
Abaixo deixei três dos vídeos que mais gostei:
Uma pequena reflexão sobre "O apanhador de desperdícios"
O poema traz uma crítica em relação a sociedade contemporânea que valoriza o imediatismo, sobrecarrega-se de informações e vive apressada sem se importar com os pequenos detalhes da vida. A crítica fica bem nítida nos versos "Não gosto das palavras/fatigadas de informar.".
O poeta trouxe referências ao mundo moderno e também comparou ironicamente a humanidade com a tecnologia, usando a palavra "aparelhado". Também trouxe referências aos pequenos detalhes que são "desimportantes" para a contemporaneidade, mas carregados de profundidade e importância, até mesmo para ter uma vida mais leve.
Manoel de Barros é um amante da natureza e a maioria de suas obras possuem traços e/ou referências a ela, por isso percebemos a sua valorização para ele. Mas não só a natureza, suas obras também são repletas de objetos e detalhes que parecem "insignificantes". Essas características foram as responsáveis pela minha identificação com as obras do autor; gosto da ideia de usar o pequeno, "insignificante" e desvalorizado para intensificá-los e atribuir-lhes importância.
Também é comum encontrarmos neologismos e para o meu olhar eles possuem a função de destacar essa profundidade do significado das palavras. Podemos pegar como referência o verso "Só uso a palavra para compor meus silêncios.", minha reflexão se constrói a partir do neologismo "invencionática". Pois trouxe a mim uma ideia sobre a invenção de um mundo a partir das palavras, um mundo em que as coisas mais importantes são as "desimportantes"e as palavras não são usadas para sobrecarregar as pessoas, mas sim para abastecê-las de conhecimento e leveza para uma vida saudável (essa é uma reflexão pessoal, que obtive a partir da leitura).
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
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